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ENIC discutiu novo segmento de empresas que visam impacto social e lucro

Disseminar o conceito de negócios sociais, discutir essa prática e buscar formas de aplicá-la na indústria da construção foi o objetivo do painel “A experiência de interação entre negócios sociais e a indústria da construção”, que aconteceu no segundo dia de programação do Fórum de Ação Social e Cidadania (FASC/CBIC) durante o 88º Encontro Nacional da Indústria da Construção (ENIC).

Em uma roda de conversa, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), líderes setoriais, entidades empresariais e empreendedores deram início a um debate para efetivamente colocar em prática essa ideia, que é “a luz do futuro para todas as indústrias”, conforme afirmou Ana Flávia Godoi, assessora de planejamento do FASC/CBIC. “Nossa indústria tem que começar a incorporar e criar possibilidades de caminhos para que a responsabilidade social se desenvolva”.

Os negócios sociais surgiram a partir da busca por negócios que trouxessem melhorias para a coletividade, mas também lucro comercial, conforme explicou Valéria Barros, do SEBRAE Nacional. “O conceito de negócios de impacto social é aquele que traz no seu core business o conceito de resolver um problema da coletividade ou alguma questão social”, definiu. Contudo, “impacto social” se diferencia de “responsabilidade social” no sentido em que o primeiro fala mais de sustentabilidade do negócio, enquanto o segundo aborda mais questões de valores e ética.

O trabalho do SEBRAE é propagar esse conceito de iniciativas. Somente no ano passado, foram realizados 40 cursos e 72 palestras sobre o tema, além de atenderem a 4.426 pequenos negócios e empreendedores. A entidade também apresentou outras de suas ações, como Maratonas de Negócios e a inserção da matéria na pauta nacional do Desafio Universitário e na plataforma “Like a Boss”, de startups, levando assim a ideia para novos públicos. “Temos o papel de levar o tema adiante. São esses negócios que estarão inseridos nas cadeias de valor e trabalharão para a sustentabilidade local”, disse Valéria Barros.

Já o Instituto Legados é outra das entidades que visam fomentar o empreendedorismo social, de acordo com seu diretor-executivo Paulo Cruz Filho, que há 10 anos estuda o que são negócios sociais. As linhas de atuação do Instituto são: capacitação e fortalecimento de iniciativas, educação formal – eles possuem um curso de pós-graduação sobre o assunto – e fortalecimento da rede de apoio. “Buscamos entender qual nosso papel como empresas, associações e academia dentro do empreendedorismo e quais as oportunidades existentes”, comentou.

Cruz Filho falou ainda da importância do negócio social para a indústria da construção: “As empresas conseguem benefícios palpáveis, como redução do custo e melhoria do processo, além de mobilizar o entorno em prol de algo maior. É um ganha-ganha para todos”.

Como exemplo real da aplicação de negócios sociais na construção civil, Ana Valéria Chaves apresentou o trabalho realizado por sua empresa, a ReNascer Desenvolvimento Humano. Ela trouxe casos em que a entidade trabalhou junto a construtoras no desenvolvimento de planos de reassentamento sustentáveis, como uma agrovila em Porto Velho, que retirou 80 famílias da beira do Rio Madeira, e a implantação de usinas eólicas. “Buscamos entender as necessidades e a realidade dessas pessoas. E levamos a elas também a visão do empreendedor”. Ana Valéria Chaves destacou também que a ReNascer atua por meio de planos de comunicação social e de educação ambiental junto a comunidades, empreendedores e trabalhadores da construção.

Buscar novos projetos sociais e geração de renda localmente é outro de seus desafios. “O trabalho na obra é importante, mas dura entre seis meses e um ano, e depois a empresa vai embora. Então estamos tentando desenvolver projetos para que as comunidades [onde as construtoras atuam] tenham uma melhoria a longo prazo”, ressaltou.

A debatedora expôs ainda que é bem difícil convencer o contratante a desenvolver esse trabalho social antes de acontecer um problema, o que diminui a qualidade do apoio prestado e gera mais custos para a empresa. Oslecy Garcia, empreendedora presente na plateia do painel, avaliou que o grande problema é a abordagem utilizada para convencer as construtoras. “As empresas de negócios sociais não devem chegar como solucionadores de um problema causado por nós. Devemos somar e construir juntos”, indicou. Garcia relatou que o setor já busca impacto social, como em sua organização, onde a mão de obra é contratada na base territorial local e as compras são feitas na comunidade, desde que com qualidade e preços competitivos. Eles também fazem um trabalho de política e cidadania dentro da obra e conversam com os moradores antes do início das obras, por exemplo. “Queremos construir de uma maneira sustentável, respeitosa, e contribuir decisivamente para um processo de desenvolvimento estruturado”.

O consultor do FASC, Leonardo Moura, foi outro presente a dar sua opinião sobre o tema ao final do debate: “O que a gente necessita é de projetos de impacto que sejam coletivos, de médio e longo prazo e que perdurem. Além da necessidade de integrar responsabilidade social com políticas públicas”.

A presidente do FASC/CBIC, Ana Cláudia Gomes, encerrou a programação do Fórum, no 88º ENIC, expressando sua expectativa de ter apresentado a Foz do Iguaçu uma nova visão do social. “Todo nosso esforço nasceu da vontade de que o ENIC deixasse um legado social por onde ele passe”.

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